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Amar com câncer

Amar com câncer

Pior que o estigma social é o próprio imaginário da paciente

A rotina no Hospital do Câncer II, unidade do Instituto Nacional de Câncer (Inca) dedicada ao tratamento de mulheres com câncer ginecológico, evidenciou um problema recorrente. Grande parte das pacientes, muitas ainda jovens, abre mão de sua sexualidade.

O impacto físico e psicológico do tratamento, somado ao estigma social do câncer, faz com que muitas pacientes interrompam a sua vida sexual. O resultado é a perda de qualidade de vida e autoestima e, com alguma frequência, o fim de casamentos, uniões estáveis e namoros.

Para mitigar o problema, o Inca criou há um ano o Ambulatório de Sexualidade do HC2, que busca promover a recuperação da sexualidade de pacientes da unidade. O ambulatório conta com equipe interdisciplinar, com enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, médico e psicólogo, e já atendeu mais de 200 mulhere.

São pacientes com câncer do colo do útero, corpo do útero, ovário, vulva e vagina. Em grande parte dos casos, elas precisam se submeter à radioterapia, direcionada à região pélvica, que em geral provoca o estreitamento do canal vaginal (estenose), o ressecamento da mucosa e outros efeitos colaterais.

Nossa experiência demonstra que pior que os impactos físicos do tratamento são aqueles de ordem emocional. A equipe do ambulatório trabalha para atender aos dois aspectos.

Efeitos como a estenose e o ressecamento da mucosa podem ser reduzidos com exercícios com dilatadores vaginais de silicone e o uso de preservativos lubrificados e de lubrificantes e hidratantes intravaginais livres de hormônios. Essas orientações e outras são fornecidas às pacientes.

Quanto à superação do impacto da doença e tratamento, essa requer um esforço maior. Muitas vezes, pior que o estigma social — a percepção negativa de companheiros, familiares e amigos — é o próprio imaginário da paciente, que se convenceu de que sua vida chegou ao fim, inclusive a sexualidade.

Para as nossas pacientes e todos os leitores desse artigo, o Inca afirma, com base na evidência científica e prática assistencial, que as pacientes com câncer ginecológico podem — e devem — continuar a ter uma vida sexual ativa.

Circunstâncias do tratamento, sobretudo o radioterápico e cirúrgico, podem exigir adaptações, cuidados e restrições, temporários ou permanentes, mas a mulher que enfrenta um câncer ginecológico não deve abrir mão de sua sexualidade. Ao contrário, sexo é saúde e um elemento importante da afetividade. Manter uma vida sexual ativa só contribui para a autoestima das pacientes, que é fundamental no enfrentamento da doença.

Há muito tempo o diagnóstico de câncer deixou de ser uma sentença de morte. Os avanços no tratamento permitiram um aumento na sobrevida dos pacientes, tendência que deve se acentuar. As pessoas viverão períodos cada vez mais longos com a doença controlada e o desafio a ser enfrentado é o da qualidade de vida. No caso das pacientes de câncer ginecológico, não há motivo para abdicar de um aspecto tão importante da vida como a sexualidade.

Fonte: O Globo
Notícia publicada em: 13/03/2018
Autor: Maria Luiza Vidal, Carmen Lúcia de Paula e Ana Cristina Pinho

Maria Luiza Bernardo Vidal é enfermeira e Carmen Lúcia de Paula, coordenadora do Ambulatório de Sexualidade do Inca; Ana Cristina Pinho é diretora-geral do Inca.

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